GOVERNAR.

Os garotos da rua resolveram brincar de Governo, escolheram o Presidente e pedirem-lhe que governasse para o bem de todos.
- Pois não - aceitou Martim. Daqui por diante vocês farão meus exercícios escolares e eu assino. Clóvis e mais dois de vocês formarão a minha segurança. Januário será meu ministro da fazenda e pagará o meu lanche.
- Com que dinheiro?- interrompeu Januário.
- Cada um de vocês contribuirá com um cruzeiro por dia para a caixinha do Governo.
- E o que é que nós lucramos com isso? - perguntaram em coro.
- Lucram a certeza que tem um bom Presidente. Eu separo as brigas, distribuo as tarefas, trato de igual para igual. Vocês obedecem, democraticamente.
- Assim não vale. O Presidente dever ser nosso servidor, ou pelo menos saber que todos somos iguais a ele. Queremos vantagens.
- Eu sou Presidente e não posso ser igual a vocês, que são governados. Se exigirem coisas de mim, serão multados e perderão o direito de participar da minha comitiva nas festas. Pensam que ser Presidente é moleza? Já estou sentindo como este cargo é cheio de espinhos.
Martim foi deposto, e desfeita a República.
( Carlos Drumond de Andrade, Contos plausíveis).

Esse texto foi escolhido para a prova de interpretação de texto da minha filhota. Da época que Drumond escrevia para crianças. Acho que todo adulto deveria lê-lo, porque tenho certeza que muitos brasileiros não se deram conta que quem sustenta a maquina do governo somos nós. O governo não gera renda não produz dinheiro, todas as regalias, salários são pagos com o dinheiro dos impostos.